Uma “cidade inteligente” tem essa classificação porque passou a adoptar a partilha de dados das tecnologias inteligentes, incluindo a Internet das Coisas (IOT) e as tecnologias de informação (IOT) para melhorar a eficiência dos serviços, minimizar a emissão de gases poluidores e melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos.
Os serviços de transporte inteligente e de microbilidade através do uso das bicicletas e trotinetas elétricas estão a mudar o perfil urbano das grandes metrópoles mundiais, a diminuir a pegada carbónica e a contribuir para um futuro mais “verde” e sustentável, considerando também o efeito das alterações climáticas. E estas 31 cidades definiram já estratégias de médio e longo prazo, através do recurso a tecnologia de ponta, para mudar a forma como se vive, respira e trabalha dentro delas.
A pandemia da covid-19 “trouxe uma grande mudança no quotidiano da Humanidade com a aceleração do desenvolvimento de várias tecnologias inovadoras, como a Inteligência Artificial”, realçou o Professor Lee Jung Hoon, coordenador geral do projeto de desenvolvimento do Índice das Cidades Inteligentes, no prefácio do “Smart Cities Index Report 2022”.
As novas formas de mobilidade através das aplicações web são um dos eixos centrais do Índice das Cidades Inteligentes 2022, onde Lisboa figura como uma das 31 metrópoles a merecer essa classificação, numa lista onde também se encontram a vizinha Madrid, Paris, Nova Iorque, Tóquio, Seul ou Sidney, entre muitas outras. Para esta terceira edição do relatório, a recolha de dados sobre os serviços e infraestruturas destas cidades foi realizada entre o segundo semestre de 2019 e novembro de 2021. Em plena pandemia, portanto, com um mundo em transformação pelos períodos de confinamento e de teletrabalho.
Onze critérios determinaram a classificação das cidades inteligentes ao nível da prestação de serviços – administração, transporte, saúde, bem estar, ambiente, criminalidade e prevenção de catástrofes, cultura, turismo e desporto e logística.
Na categoria “tipo de serviço de cidade inteligente”, o transporte é o mais importante para 32% dos cidadãos destas metrópoles, logo seguido pelo Turismo, cultura e desporto com 18% e do meio ambiente e energia com 12%.
Os serviços de infraestruturas diminuíram em importância 3,4% em relação ao ano anterior, segundo o relatório. Em contrapartida, os serviços baseados em aplicações web aumentaram 2,6%, uma tendência realçada pela pandemia, de que foi exemplo o aumento dos pedidos de comida e transporte online através de aplicações como a Uber ou a Bolt. Também se deve, como refere o relatório, “ao aumento dos vários serviços de micromobilidade que os cidadãos podem usufruir diretamente como bicicletas e trotinetas elétricas, além da confirmação de localização e reserva de estações de carregamentos de veículos elétricos e estacionamentos inteligentes com base na infraestrutura de transporte inteligentes”, destaca o relatório.
Em termos de infraestrutura, algumas destas 31 cidades inteligentes mundiais estão a construir uma plataforma que liga vários meios de transporte para o MAAS (Mobility As A Service) ou um sistema inteligente que poderia usar o controlo de semáforos ao nível da passagem de peões, de bicicletas, entre outros. O documento destaca ainda que “a construção de infraestruturas para postos de carregamento tem vindo a aumentar devido ao recente aumento da procura de veículos eléctricos”.
Lisboa. “Cidade Inteligente baseada num ecossistema de dados abertos”
Ficha da cidade: A capital de Portugal é a maior cidade do país com 100,1 K2 e com 510.000 habitantes (sem contar os da área metropolitana). Prima pela “sustentabilidade suficiente” para ter conquistado o European Green Capital Award 2020. O relatório destaca que a Câmara Municipal de Lisboa está a desenvolver ativamente projetos de cidades inteligentes orientados a dados, em cooperação com universidades, institutos de investigação e empresas e vários departamentos.
À data do inquérito com 19 índices para o relatório, Lisboa estava a realizar vários projetos de inovação de cidades inteligentes utilizando a rede europeia de cooperação de cidades.
A partir de 2021 “Lisboa tem estado a realizar por conta própria vários projetos de inteligência urbana ao nível da cidade”, para resolver problemas que afetam os seus residentes e criar valores. O relatório sublinha a importância do “Centro de Gestão e Inteligência Urbana de Lisboa”, uma plataforma integradora de dados criada pela Câmara de Lisboa dedicada ao desenvolvimento dos serviços das cidades inteligentes.
O documento destaca também o portal “Lisboa Aberta” que desde 2018 prepara as bases para a abertura de dados da cidade. É produzido pela Câmara Municipal de Lisboa e de acesso livre e gratuito. À data da realização do relatório, o portal estava a focar-se na partilha de dados da cidade em tempo real com empresas e start ups. Lx Data Lab, Urban Co-Creation Data Lab e NOVACidade-UrbanAnalytics Lab3 estão no centro de alguns desses projetos.
Amsterdão. O modelo pioneiro “Donut Urbano”
A capital e maior cidade da Holanda tem uma área de 219km2. “Amsterdam Smart City (ASC), economia circular “Resiliência de Recuperação Climática e “Modelo de Donut Urbano” são apresentados como modelos de cidades futuras. Destacada também pelas políticas ambientais e energéticas.
A plataforma Amsterdam Smart City Plattform (ASC) promove uma cidade aberta que liga a autarquia, o Governo, mas também empresas, escolas, universidades e residentes.
O “Amsterdam 2040 Urban Master Plan Establishment” visa a convergência de tecnologias inteligentes como o design inovador das cidades, a Inteligência Artificial (AI) e a Internet das Coisas (IoT).
O Modelo “Donut Urbano”, conceito proposto pela economista britânica Kate Reys, propõe as condições mínimas para a dignidade de vida dentro do “anel” da cidade ou “donut”, como seja, transporte, higiene, educação, assistência na saúde, energia, entre outros critérios. O conceito inclui o limite ecológico do anel externo, o Ecological Ceiling, sendo a primeira cidade a propor um maior equilíbrio entre a poluição do ar, do solo e do mar.
Barcelona. Na vanguarda na tecnologia digital
É a segunda maior cidade de Espanha, com uma área de 100km2 e é a capita da região da Catalunha com uma população de 1,6 milhões. Centro turístico e cultural representativo de Espanha, Barcelona tem adotado novos modelos de crescimento baseados em tecnologia digital com os cidadãos desde 2010. Como sede do MWC Mobile World Congress 2019 e do SCEWC Smart City Expo World, reúne especialistas de todo o mundo para promover a cooperação.
O Projeto 5G Catalunya, que começou como um projeto piloto em 2021, está a preparar Barcelona para uma época de hiperconexões, incluindo mobilidade urbana com tecnologia 5G, educação à distância com tecnologia de holografia e Indústria 4.0.
A Câmara de Barcelona apresentou o plano “Digital Media City” para divulgar de forma transparente os dados coligidos dos cidadãos para os cidadãos, de forma transparente , à semelhança do que já fazem Nova Iorque e Amsterdão.
Paris. Inovadora nos Percursos de 15 minutos
A capital da França tem uma população de 2,2 milhões numa área de 105 km2. Está na liderança da extensão do Acordo Climático de Paris. Em Julho de 2020 a autarca reeleita de Paris, Anne Hidalgo, anunciou a criação dos “bairros de 15 minutos” para a transformação ecológica da cidade, em que todos os serviços necessários aos cidadãos estão, nesses bairros, a uma distância a pé ou de bicicleta de 15 minutos. O “Programa de Inovação em Mobilidade”, em que está integrado esse projeto, visa limpar o ar e melhorar a vida quotidiana dos parisienses. Em 2024 os veículos a gasóleo não serão permitidos em Paris e está a ser tentada uma transição para ruas parisienses 100% amigas de bicicletas, sendo esperada também a proibição de veículos a gás na capital francesa em 2030.
A Paris Transport Corporation iniciou o serviço 100% elétrico “Autonomous Driving Artificial Intelligence (AI) Shuttle Bus”, que está em expansão, e as principais estradas estão a concentrar-se em microbilidade
Nova Iorque. A cidade do futuro e modelo para outras
É a cidade mais populosa dos Estados Unidos, com mais de 8,5 milhões de habitantes e uma área de 784 km2. Centro financeiro e cultural dos EUA, Nova Iorque lidera o mundo em várias áreas, como lembra o relatório Smart Cities 2022, e começou a implementar políticas de cidade inteligente desde 2014. Na esteira da visão “We Make New York City Future Ready”, a grande metrópole norte-americana, uma das mais poluidoras do mundo, fixou a meta de zero emissões de carbono em 2050 e está a dar passos revolucionários, com o recurso à tecnologia, para cumprir o plano de longo prazo OneNYC2050. Para poupar energia, procedeu à instalação de luzes LED em mais de 950 edifícios de 16 agências públicas. Em 2020, instalou centenas de sensores e tecnologias inteligentes em vários dos seus bairros para recolha de dados por forma a melhorar serviços. O que incluiu simplicar o fluxo do tráfego automóvel, detectar o escoamento de águas e monitorizar a qualidade do ar, como destaca um artigo do site “Earth” sobre a “Big Apple”. Também introduziu locais de carregamento online onde estavam as suas cabines telefónicas e aumentou os serviços de “carsharing”.
Tóquio. Sociedade 5.0 onde pessoas e coisas estão ligadas
A capital do Japão tem mais de 14 milhões de habitantes e uma área de 2193 km2. Tóquio possui a maior rede de transporte ferroviário do mundo. A “Smart Tokyo Society 5.0” pretende melhorar a qualidade de vida dos cidadãos através de três objetivos estratégicos: Tokyo Data Hyghway (ambiente de rede móvel rápido para os cidadãos a qualquer hora e em qualquer lugar através de equipamentos de rede 5G e expansão de redes WI-FI), transformação digital dos serviços de administração da cidade e transformação digital de instalações públicas e serviços ao cidadão. A ideia é que as pessoas possam usar os serviços públicos independentemente de onde se encontram, sempre através do acesso online. Além da condução autónoma, Tóquio está também a apostar no dinheiro digital para se livrar da sua vertente física através de apps de pagamento instaladas em smartphones. No campo da energia, a capital japonesa está também a expandir o uso de luzes LED, na construção de casas e edifícios eco-sustentáveis e no hidrogénio como combustível em scooters e autocarros.
Seul. A cidade da Plataforma 6S
A capital da Coreia do Sul é uma das maiores metrópoles do globo, com 10,9 milhões de pessoas concentradas numa área de 605 km2. Seul ficou em primeiro lugar na avaliação de governo eletrónico das maiores cidades do mundo por sete vezes consecutivas desde 2003. Na era da pandemia anunciou o Plano Básico de Metadados e uma estrutura de cidade inteligente baseada numa plataforma que liga todos os serviços, a 6S (S-NET, S-Dot, S-Data, S-Brain, S-Map, S-Security). Introduziu, no âmbito dessa plataforma, o S-Map, uma cidade gémea virtual que replica toda a área de Seul em 3D.O objectivo é resolver, através de simulações na cidade gémea virtual, vários problemas de administração, tráfego urbano, serviços e ambiente. A S-NET é uma infraestrutura de comunicação que pode fornecer serviços de cidade inteligente para toda a área pública de Seul.